Mocho-dos-banhados Asio flammeus (Pontoppidan, 1763)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (10 subespécies)
Indivíduo adulto. Foto: Gustavo Pinto |
O mocho-dos-banhados é uma coruja de ampla distribuição no mundo, ocorrendo em várias regiões da América do Norte, Europa, Ásia e América do Sul. No Brasil é encontrada desde a Bahia e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, além do norte de Roraima. Vive em áreas abertas, como campos naturais, pastagens, banhados e tundras. Ativa tanto à noite quando de dia, é frequentemente observada voando baixo e lentamente sobre a vegetação à procura de presas, ou pousada sobre arbustos, mourões de cerca ou no solo. Conhecida também como coruja-dos-campos e coruja-do-nabal.
Descrição: Coruja de médio porte, possui de 34-42 cm de comprimento, peso de 206-396 g (macho) e 260-475 g (fêmea) (Olsen et al. 2018). Adulto apresenta o dorso marrom-escuro mesclado com castanho, ventre castanho-creme estriado de marrom-escuro (mais espessas no pescoço); cauda curta e barrada. A face é castanho-creme, com disco facial delimitado por uma fina faixa marrom-escura (dando um aspecto arredondado a face), íris amarelo-brilhante, com máscara negra contornando os olhos e uma curta sobrancelha branca. Possui pequenos tufos de penas no alto da cabeça, parecendo orelhas, que são muito pequenas e pouco visíveis, aparecendo apenas quando a ave está excitada/estressada. O bico e as garras são negros, com tarsos emplumados até a base dos dedos. O jovem sai do ninho com plumagem parecida com a do adulto, porém, apresenta a face mais escura, com máscara pouco definida, muitas vezes apresentando um pouco de branco na borda dos discos faciais, e dorso de marrom mais escuro.
Vocalização: Geralmente silencioso, mas durante o período reprodutivo o macho emite uma série de 13-16 notas em voo, transcritos como “wu-bu-bu-bu-bu... ...bu-bu-bog”, grave, que aumenta ligeiramente no tome e volume, diminuindo no final, repetidos em intervalos variáveis. Ambos os sexos também emitem um chamado de alerta, transcritos como “kweeauu...” grave e rouco, lembrando um latido de cachorro.
Dieta e comportamento de caça: É uma especialista na captura de pequenos mamíferos, caça principalmente roedores, mas também outros pequenos vertebrados e insetos. Como estratégia de caça, sobrevoa campos, pastagens e banhados em voo rasante e lento, e ao avistar uma presa no solo cai rapidamente sobre ela; também pode procurar presas a partir de um poleiro. Quando o alimento é abundante, costuma estocar presas ao redor do ninho. Pode caçar durante o dia, no crepúsculo ou à noite. A atividade de caça da espécie em todos os períodos do dia pode estar relacionada a fatores como escassez de presas ou necessidade de alimentar filhotes.
Reprodução: Constrói o ninho diretamente no solo pantanoso, em meio ao capim, debaixo de arbustos ou até mesmo em uma suave depressão. Geralmente a fêmea amassa a vegetação, formando uma câmara, por vezes usando alguns ramos e hastes secas ao redor do ninho. É uma das poucas corujas que demonstra uma tendência a construção de ninho. O tamanho da postura é bastante variável, muitas vezes está relacionado à abundância de presas. Normalmente coloca de 4 a 8 ovos, podendo chegar até a 16 ovos. Os ovos são incubados pela fêmea por um período de 24 a 29 dias. Os filhotes abandonam o ninho muito cedo, com 12-18 dias de idade, muito antes de aprender a voar, e se escondem entre a vegetação ou arbustos baixos; são monitorados e alimentados por ambos os pais por mais algumas semanas, até tornar-se independentes. Após um ano, o jovem atinge maturidade sexual. Normalmente o casal nidifica uma vez por ano, mas há registros de casais nidificando duas vezes por ano em épocas com grande abundância de presas.
Filhotes (ninhegos) no ninho.
Americana/SP. Junho de 2014.
Foto: Gustavo Pinto
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Filhote no ninho. Sao Joaquim da Barra/SP, Abril de 2013.
Foto: Francielly Reis |
Ninho com dois ovos encontrado em Peabiru/PR. Setembro de 2008.
Foto: Willian Menq |
Distribuição geográfica: Espécie de ampla distribuição no planeta, ocorre em quase todo o hemisfério norte, desde a Europa, Ásia, América do Norte e Oceania. No hemisfério sul é encontrada na América do Sul, desde a Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Sul da Bolívia, seguindo pela porção Andina do Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Brasil (da Bahia e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, além de uma população disjunta no extremo norte de Roraima).
São conhecidas 10 subespécies, sendo duas registradas no Brasil.
- A. f. flammeus: América do Norte, Europa; Norte da Ásia e Norte da África;
- A. f. galapagoensis: Arquipélago de Galápagos;
- A. f. ponapensis: leste da Ilhas Carlina;
- A. f. sandwichensis: Arquipélago do Havaí;
- A. f. domingensis: ilha Hispaniola e em Cuba (?);
- A. f. portoricensis: Ilha de Puerto Rico;
- A. f. suinda: sul do Peru até a Bolívia, sul, sudeste e centro-oeste do Brasil até a Terra do Fogo;
- A. f. bogotensis: Cordilheira dos Andes da Colômbia, Equador e noroeste do Peru;
- A. f. pallidicaudus: norte da Venezuela, Guiana e extremo norte do Brasil (Roraima)
- A. f. sanfordi: Ilhas Malvinas.
Habitat e comportamento: Habita campos naturais, banhados, pastagens com árvores dispersas, planícies mescladas com vegetação, e outros ambientes abertos; desde o nível do mar até 4.000 m (região andina). É diurna e crepuscular, sendo mais ativa no entardecer e início da noite. Pouco ativa nas horas mais quentes do dia e à meia-noite. Pode ser encontrada voando rasante sobre campos e pastagens, ou pousada sobre mourões de cerca em áreas rurais, especialmente no final da tarde. No período reprodutivo é bastante territorial, defende seu ninho com voos rasantes contra intrusos a fim de intimidá-los.
Movimentos: No Brasil é uma espécie residente. Populações do hemisfério norte, especialmente a subespécie A. f. flammeus, são parcialmente migratórias, deslocam-se para latitudes mais quentes durante o inverno.
Conservação: Assim como toda uma variedade de aves que ocupam áreas de cerrado e campos naturais, no Brasil a A. flammeus possivelmente esteja ameaçada devido supressão dessas paisagens pela inserção e proliferação da agropecuária, e da cultura de arbóreas exóticas (especialmente Pinus) e de queimadas em terrenos baldios e plantações, onde a espécie pode nidificar.
:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::
Referências:
Gwynne, J. A.; Ridgely, R. S.; Tudor, G. & Argel, M. (2010) Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado. São Paulo: Ed. Novo Horizonte.
Holt, D.W.; Berkley, R.; Deppe, C.; Enriquez-rocha, P.L.; Petersen, J.L.; Rangel-salazar, J.L.; Segars, K.P. & Wood, K.L. (1999) Species acounts of Strigidae. Em: Del Hoyo, J., A. Elliott, e J. Sargatal, (eds.) Handbook of the birds of the world. V. 5, Barn-owls to hummingbirds. Barcelona, Espanha. Lynx Edicions. 759p.
Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. 2º Edição. New Haven, Connecticut: Yale University Press.
Olsen, P.D., Kirwan, G.M., Christie, D.A. & Marks, J.S. (2018). Short-eared Owl (Asio flammeus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from https://www.hbw.com/node/55128 on 12 February 2018).
Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira.
Citação recomendada:
Menq, W. (2018) Mocho-dos-banhados (Asio flammeus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/asio_flammeus.htm > Acesso em:
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