Gavião-pombo-grande Pseudastur polionotus (Kaup, 1847)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Monotípica
Indivíduo adulto. Foto: Antonio Pessoa |
Gavião endêmico da Mata Atlântica. Normalmente encontrado nos trechos mais preservados de florestas das regiões sudeste, sul e nordeste do Brasil. É frequentemente observado planando nas horas mais quentes da manhã, muitas vezes junto a urubus e outros gaviões. Também conhecido como gavião-pombo-branco.
Descrição: Mede de 48 e 53 cm de comprimento (Mikich & Bérnils, 2004). O adulto apresenta a cabeça, nuca e partes inferiores brancas, enquanto o dorso e as asas são cinza-escuro, quase preto. A cauda é curta, apresenta cor preta na base e branca no restante, sendo que em voo só é possível visualizar o branco da cauda. O jovem é similar ao adulto, possuindo pequenas estrias na cabeça e no pescoço.
Espécies similares: Pode ser confundido com o gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus), sendo diferenciado pelo padrão da cauda. O A. lacernulatus tem uma faixa preta terminal na cauda, enquanto a do P. polionotus é predominantemente branca.
Dieta e comportamento de caça: Alimenta-se de aves, répteis e pequenos mamíferos (ICMBio, 2008; Mikich & Bérnils, 2004). Martuscelli (1996) descreve observações de capturas de sabiá (Turdus albicollis), papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), alma-de-gato (Piaya cayana) e roedores. Caça no solo, mas é frequentemente avistado planando sobre a floresta alta. Posiciona-se também próximo de árvores em frutificação para atacar aves atraídas pela árvore (ICMBio, 2008; Mikich & Bérnils, 2004). Em Santa Catarina, J. Albuquerque (obs. pess. 2003) relata que a espécie gosta de ficar pousada em araucárias para espreitar presas, onde já foi observado capturando lagartixas.
Apesar de intimamente associados a cobertura florestal, Salvador-Junior (2010) observou alguns hábitos oportunistas desta espécie, realizando a captura em área aberta de um pequeno roedor desalojado pela atividade de desmate e utilizando a borda do fragmento para emboscar presas em locais recém desbastados. Foram também registradas cinco capturas de serpentes e uma tentativa frustrada de predação de uma jacupemba Penelope superciliaris.
Reprodução: Biologia reprodutiva pouco conhecida. Sabe-se que constrói o ninho com galhos secos no alto das árvores (Sick, 1997; Mikich e Bérnils, 2004).
Distribuição Geográfica: Ocorre na faixa litorânea brasileira (Pernambuco, Minas Gerais até o Rio Grande do Sul), nordeste da Argentina e Paraguai (Ferguson-Lees & Christie, 2001; Sick, 1997; Roda & Pereira, 2006).
Habitat e comportamento: Endêmico da Mata Atlântica (Menq 2016), pode ser encontrado nos trechos mais preservados do domínio, especialmente em terrenos acidentados e vales, habitando Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista e Floresta Semidecidual. Costuma sobrevoar a mata nas horas mais quentes da manhã, por vezes junto a outros gaviões e urubus.
Aparentemente é bastante territorial. Willian Menq (obs. pess. 2014) observou um casal planando sobre uma área de floresta e atacando através de voos rasantes um gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) que apareceu no local. Um dos indivíduos executou diversos mergulhos sobre o S. tyrannus, até acuá-lo do local.
Salvador-Junior (2010) monitorou entre setembro e novembro de 2008 um casal de Pseudastur polionotus durante a supressão vegetal de um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual na região do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Inicialmente a espécie se mostrou extremamente irritada com a presença humana no interior do remanescente, realizando
voos circulares sobre o dossel, vocalizando intensamente, investindo contra trabalhadores e regurgitando conteúdo estomacal sobre
o pesquisador. Com o avançar da frente de desmate, os indivíduos se tornaram mais tímidos e reservados, até
abandonarem definitivamente o fragmento. Os rapinantes se mostraram ativos durante todo o dia, com
pico de atividade associado as horas mais quentes. Apesar dos esforços despendidos, nenhum ninho foi detectado. Em outro
fragmento de maior porte localizado na mesma região, a espécie foi também avistada, tendo sido registrados indivíduos adultos
solitários e um casal formado.
Movimentos: Espécie residente.
Conservação: A ocorrência exclusiva no domínio da Mata Atlântica associada à alta dependência de habitat florestal torna esta espécie especialmente sensível ao avanço das atividades humanas (Silveira et al., 2009). Está ameaçado de extinção em vários estados devido a destruição do hábitat pelo desmatamento. Ataques fortuitos desse rapineiro a animais de criação acabam por estimular abates, os quais, ainda que pontuais, colaboram com o seu declínio (Mikich e Bérnils, 2004; Sick, 1997).
:: Página editada por: Willian Menq em Mar/2018. ::
Referências:
ICMBIO, (2008). Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Coordenação-Geral de Espécies Ameaçadas. – Brasília
Menq, W. (2016) Aves de rapina da Mata Atlântica - Aves de rapina Brasil (publicações online). Disponível em: <http://www.avesderapinabrasil.com/arquivo/artigos/avesderapina_mataatlantica.pdf> Acesso em setembro de 2016.
RODA, S. A.; PEREIRA, G. A. (2006) Distribuição recente e conservação das aves de rapina florestais do Centro Pernambuco. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 14, n. 4, p. 331-344.
Salvador-Junior, L. F. (2010). Behaviour and diet of the Mantled Hawk Leucopternis polionotus (Accipitridae; Buteoninae) during deforestation of an Atlantic Rainforest landscape in Southeast Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 18(1):68-71.
Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.
Site associado: Global Raptor Information Network
Citação recomendada:
Menq, W. (2018) Gavião-pombo-grande (Pseudastur polionotus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/leucopternis_polionotus.htm > Acesso em:
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