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Murucututu Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (6 subespécies)

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Indivíduo adulto. Foto: Douglas Fernandes

Coruja grande e poderosa, encontrada por quase todo o Brasil. Devido aos hábitos discretos e noturnos, é mais ouvida do que vista. A subespécie P. p. pulsatrix (que ocorre na Mata Atlântica) é rara e ameaçada de extinção, enquanto que a P. p. perspicillata (região amazônica) é comum em toda a floresta amazônica e nas formações florestais do Cerrado. Conhecida também como corujão, coruja-do-mato, mocho-mateiro e coruja-de-garganta-preta.


Descrição:
Mede de 43-52 cm de comprimento e peso que varia de 550-980 g (P. p. perspicillata) a 1075-1250 g (P. p. pulsatrix) (Konig & Weick, 2008; Holt et al. 2015). Adulto apresenta dorso marrom-escuro quase negro, ventre creme, pescoço marrom-escuro com um colar branco abaixo do bico. Sua característica mais marcante é uma faixa branca que se estende desde a sobrancelha até a lateral do bico, num desenho que lembra um "X" na face. O restante da face é marrom-escuro, íris amarelo-brilhante e bico marfim. O jovem sai do ninho com plumagem toda branca com disco facial preto e íris amarela.

Espécies-similares: Pode ser confundida com a murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana), que ocorre exclusivamente na Mata Atlântica. Diferencia-se dela pela íris amarela e desenho da face branco (na P. koeniswaldiana a íris é castanho-escuro e as faixas da face são de cor marrom-creme). O filhote se diferencia pela penugem branca e íris amarela (na P. koeniswaldiana o filhote possui penugem creme e íris escura).

Taxonomia: A subespécie P. p. pulsatrix é tratada por alguns autores como espécie separada e monotípica, denominada de Pulsatrix pulsatrix. A justificativa é que o táxon apresenta diferenças vocais e de plumagem em relação às outras subespécies. No entanto, muitos outros autores não acataram tal classificação, consideram os dados insuficientes, já que as diferenças são sutis, confusas e não há nenhuma análise genética e morfológica detalhada da espécie (SACC 2008; CBRO 2014). Já as subespécies P. p. chapmani, P. p. trinitatis e P. p. boliviana são mal diferenciadas, talvez não sejam formas válidas, necessitando de estudos taxonômicos.

Dieta e comportamento de caça: Caça desde pequenos mamíferos, como camundongos e gambás (Didelphys), até pequenas aves, como pombos e pequenas corujas (Megascops). Em menor frequência, caça morcegos, anuros, pequenos répteis e invertebrados. Em áreas de mangue, captura caranguejos, grandes aranhas e insetos. Como tática de caça, espera a presa pousada em um galho, capturando-a no solo ou nas árvores. Geralmente suas atividades de caça se dá nos períodos do crepúsculo e início da noite, quando a claridade é maior.

No Panamá, em 2009, o ornitólogo James Bryson Voirin encontrou evidências do ataque da espécie contra um bicho-preguiça (Bradypus variegatus), sendo esta a maior presa relatada para a espécie (Voirin, et al. 2009).

Reprodução: Nidifica em ocos de árvores ou fendas em penhascos e cavidades naturais inseridas na floresta. Coloca em média, dois ovos, que são incubados pela fêmea por aproximadamente 35 dias. A fêmea costuma iniciar a incubação após ter colocado o primeiro ovo, o que resulta em um tempo diferente de eclosão e tamanho dos filhotes. Os jovens deixam o ninho em 5-6 semanas após o nascimento, mas ficam dependendo dos pais por quase um ano, mesmo após adquirir a plumagem definitiva. Segundo Koning & Weick (2008) os indivíduos demoram até cinco anos para adquirirem por completo a plumagem adulta.

A espécie pode reaproveitar o mesmo local de nidificação por vários anos consecutivos. Na RPPN Buraco das Araras, localizada em Jardim/MS, monitores da RPPN registraram por seis anos consecutivos a nidificação de um casal em uma das fendas do paredão rochoso.

Distribuição e subespécies: Ocorre do México à Bolívia, Paraguai, Argentina e por grande parte do Brasil. A espécie possui seis subespécies reconhecidas sendo duas delas ocorrentes em território brasileiro, a P. p. pulsatrix (Mata Atlântica) e a P. p. perspicillata (região Amazônica).

Subespécies:

  • P. p. saturata: ocorre no sul do México (Veracruz e Oaxaca) até o oeste do Panamá, na região da cota do Oceano Pacifico até a região de Chiriquí;
  • P. p. chapmani: costa caribenha da Costa Rica e leste do Panamá até a Colômbia, oeste do Equador e Noroeste do Peru;
  • P. p. trinitatis: Ilha de Trinidad no Caribe;
  • P. p. perspicillata: Venezuela, nas Guianas, na Amazônia brasileira, e do leste da Colômbia até o norte da Bolívia.
  • P. p. boliviana: ocorre no sul da Bolívia e no norte da Argentina;
  • P. p. pulsatrix: leste do Brasil (Mata Atlântica), da Bahia até o Rio Grande do Sul, Paraguai, e nordeste da Argentina (Misiones).

Habitat e comportamento: Habita florestas altas, capoeiras e florestas de galeria, demostrando preferência por áreas próximas de corpos d’água. Pode aparecer em borda de matas e árvores esparsas no entorno de sede de fazendas e áreas habitadas.

Vive solitária ou aos pares; o casal pode cantar juntos, em dueto, para demarcarem o território no período reprodutivo. Seu canto é um chamado grave, longo e um pouco descendente. Geralmente responde ao playback emitindo seu chamado de alerta descrito como "aoooou". É noturna, torna-se ativa assim que escurece. Durante o dia, dorme pousada em galhadas densas do interior da mata, às vezes em casal em alturas variáveis entre 2 m e o topo da copa, podendo ficar ativa durante dias nublados. Como as outras corujas, é mais ouvida do que observada.

Movimentos: Espécie residente.


:: Página editada por: Willian Menq em Abr/2018. ::



Referências:

Holt, W., Berkley, R., Deppe, C., Enríquez Rocha, P., Petersen, J.L., Rangel Salazar, J.L., Segars, K.P., Wood, K.L. & Kirwan, G.M. (2015). Spectacled Owl (Pulsatrix perspicillata). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.) (2015). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. 

Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. Segunda Edição. New Haven, Connecticut: Yale University Press.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Silva, H. G; Villafanã, M. P; Moreno, J. A. S, (1997). Diet of the spectacled owl (Pulsatrix perspicillata) during the rainy season in Northern Oaxaca, México.

Voirin, J. B.; Kays, R.; Lowman, M. D.; Wikelski, M. (2009) Evidence for Three-Toed Sloth (Bradypus variegatus) Predation by Spectacled Owl (Pulsatrix perspicillata). Edentata 8-10 : pág. 15-20.

 


Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Murucututu (Pulsatrix perspicillata) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/pulsatrix_perspicillata.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

P. p. pulsatrix (VU) Vulnerável
P. p. perspicillata (LC)
Baixo risco

Canto - (gravação: Bernabe Lopez-Lanus)
By: xeno-canto.



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Casal adulto (fêmea à direita).
Costa Rica, Out. 2016.
Foto: Willian Menq
 
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Fêmea e filhote no ninho. Buraco das Araras, Jardim/MS, Dez. 2012.
Foto:
Olivia Suzuki
 
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Filhote no solo.
Teotônio Vilela/AL, Dez. 2007.
Foto:
Aldir Júnior
 
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Indivíduo adulto. Parque Zoobotânico - Belém/PA, Abril de 2009.
Foto:
Marcos Cruz
 
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Ninhego no ninho. Itarumã/GO.
Novembro de 2009.
Foto:
Danilo Mota
 
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Indivíduo adulto.
Cocalinho/MT, Julho de 2014.
Foto: Willian Menq
 
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Macho adulto.
Costa Rica, Out. 2016.
Foto: Willian Menq