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Gavião-pega-macaco Spizaetus tyrannus (Wied, 1820)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Politípica (2 subespécies)


Indivíduo adulto. Santana dos Montes/MG. Foto: Augustinho Nery

Trata-se de uma das águias-florestais mais observadas na Mata Atlântica, especialmente nas florestas litorâneas. Ocorre em quase todo o Brasil, excento nas regiões mais áridas do nordeste e nos pampas gaúchos. De silhueta inconfundível, vocaliza com frequência durante seus voos circulares pela manhã, gosta de caçar marsupiais, saguis, ratazanas, preás e outros pequenos mamíferos. Conhecido também como nhapacanim-preto, iinapacanim, urutaurana, cutiú-preto, papa-macaco e papa-mico.


Descrição:
Mede de 58-66 cm de comprimento, peso médio de 900 g (machos) e 1.100 g (fêmeas) (Márquez et al. 2005). Adulto possui plumagem preta na parte ventral com calcões e ventre barrado de branco, e dorso marrom-pardo escuro, quase negro. Possui penacho em forma de coroa, com penas brancas na base. A cauda é longa com três a quatro barras cinzas escuras; tarsos são completamente emplumados e a íris é amarelo-alaranjada. Jovem apresenta a cabeça e garganta esbranquiçada e as partes inferiores estriadas de marrom-lcaro. Apresenta silhueta única e inconfundível, asas curtas, arredondadas e cauda longa e larga.

Dieta e comportamento de caça: A alimentação é constituída principalmente de mamíferos arborícolas (marsupiais, pequenos primatas, esquilos e morcegos), aves (tucanos, araçaris e aracuãs), roedores (ratazanas), e répteis. Caça a partir de um poleiro procurando presas no solo e/ou arbustos, ou sobrevoando a baixa velocidade por cima do dossel da floresta.

Robinson (1994) registrou gavião-pega-macaco atacando esquilos (Sciurus sp.) a 2 m do solo. Há também registros do S. tyrannus capturando aves pequenas como o bem-te-vi-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis) (Skutch, 1960 in: GRIN, 2010). Como a fêmea é maior que o macho, as presas capturadas por eles são de tamanhos diferentes, assim não disputam comida entre si, podendo permanecer na mesma área, o que facilita o encontro para o cruzamento.

Funes et al. (1992) registraram 75 tipos de presas entregas às fêmeas e filhotes em dois ninhos no Parque Nacional de Tikal, na Guatemala. Os pesquisadores constataram que 68% das presas eram mamíferos (14 esquílos pequenos, 8 gambás Caluromys derbianus, 1 esquilo arborícola de tamanho médio e 5 mamíferos não identificados), 2,6% de aves (duas aves não-identificadas) e 29,3% de presas não-identificadas. Boa parte das presas eram pequenos mamíferos noturnos, sugerindo que a espécie tenha uma maior preferência por mamíferos do que o S. ornatus (obs. pess. W. Menq).

Reprodução: Constrói o ninho com galhos secos no alto das árvores, onde a fêmea coloca até 2 ovos, com período de incubação de 63 dias. Na Mata Atlântica, seu período de reprodução é de agosto a dezembro (Smith 1970 citado in: Mikich & Bernils 2004). Na Fundação Parque Zoológico de São Paulo foi registrado um casal colocando cinco ovos. Os ovos eram de coloração azulada com manchas acastanhadas e o período de incubação variou entre 49 e 51 dias (Andrade & Sanfilippo 2001).

Distribuição e subespécies: Ocorre desde o sul do México até a Argentina, incluindo todo o Brasil (exceto nas regiões áridas do nordeste e pampas gaúchos). São conhecidas duas subespécies:

  • S. t. serus: sul do México até o norte do Brasil (região amazônica);
  • S. t. tyrannus: nordeste, sul e sudeste do Brasil até o nordeste da Argentina.

Habitat e comportamento: Habita florestas, borda de matas, matas secundárias e em proximidades com rios, em altitudes que variam desde o nível do mar até 2.000 m, sendo tolerante a pequenas perturbações e desflorestamentos provocados no ambiente. Também pode ser encontrado em pequenos fragmentos florestais, áreas semiabertas e parques urbanos.

Vive solitariamente ou em pares, sendo comum observar indivíduos realizando voos altos e circulares durante o período da manhã e início da tarde. Em algumas cidades do Brasil, como Curitiba/PR e Campo Grande/MS é possível encontrá-lo sobrevoando parques urbanos e outras áreas verdes na matriz urbana. Na ilha de Santa Catarina, em Florianópolis/SC, Silveira et al. (2004) estimaram uma população de 5-7 pares de S. tyrannus habitando a ilha.

Movimentos: Espécie residente.

Ameaças e conservação: Embora tenha sido razoavelmente registrada nos últimos anos, esta espécie rapineira florestal necessita de áreas extensas para cumprir seu ciclo de vida, sendo que suas populações podem sofrer declínio em decorrência da fragmentação excessiva. Pelo fato de também poder atacar pequenas criações domésticas, como pintinhos e galinhas, é perseguido pelos fazendeiros (Del Hoyo et al. 2001; Sick, 1997). A população de Mata Atlântica encontra-se em condições mais precárias do que a da região norte (S. t. serus), principalmente devido à fragmentação do referido bioma, considerada ameaçada pelo plano de ação de aves de rapina do ICMBio (2008).

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::

 


Referências:

Albano C.; Girão W.; Pinto T. (2007) Primeiro registro documentado do gavião-pega-macaco, Spizaetus tyrannus, para o estado do Ceará, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 15 (1) 123-124.

Canuto, M.; Zorzin, G.; Carvalho-Filho, E. P. M.; Carvalho, C. E. A.; Carvalho, G. D. M. & C. E. R. T. Benfica (2012) Conservation, management and expansion of protected and non-protected tropical forest remnants through population density estimation, ecology, and natural history of top predtors; case studies in birds of prey (Spizaetus taxon). pp. 359-388 in Dr. P. Sudarshana (ed.), Tropical Forests. InTech.

Belton, W. (1994) Aves do Rio Grande do Sul, distribuição e ecologia. São Leopoldo: Ed. Unisinos.

Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard. (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p.

Salvador-Jr, L. F.; Canuto, M.; Carvalho, C. E. A. and Zorzin, G. (2011) Aves, Accipitridae, Spizaetus tyrannus (Wied, 1820): New records in the Quadrilátero Ferrífero region, Minas Gerais, Brazil. Check List: Volume 7, Issue 1, p. 33-36.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Silva, E. S.; Albuquerque, J. L. B. & Graipel, M. E. (2004). O gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) na ilha de Santa Catarina. (Monografia, Ciências Biológicas). Universidade Federal de Santa Catarina.

Zorzin, G.; Carvalho, C. E. A.; Carvalho-Filho, E. P. M. de; Canuto, M. (2006) Novos registros de Falconiformes raros e ameaçados para o Estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 14, n. 4, p. 417-421.

Site associado: Global Raptor Information Network

 

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/spizaetus_tyrannus.htm > Acesso em: .




 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Canto - (gravado por: Allen T. Chartier)
By: xeno-canto.




Indivíduo adulto.
Campo Grande/MS, Jan. 2014.
Foto:
Marco A. Lemos
 

Indivíduo adulto.
Campos do Jordão/SP, Mar. 2016.
Foto:
Nereston J. Camargo
 

Indivíduo jovem.
Salesópolis/SP, Maio de 2016.
Foto:
Elvis Japão
 

Indivíduo adulto.
Campo Grande/MS, Fev. 2014.
Foto:
Marco A. Lemos
 

Indivíduo adulto.
Caraguatatuba/SP, Jun. 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo jovem.
Itaguaí/RJ, Junho de 2012.
Foto:
Guilherme B. Adams
 

Indivíduo adulto.
Parauapebas/PA, Julho de 2010.
Foto: Guilherme Serpa
 

Adulto em atividade de caça.
Caraguatatuba/SP, Nov. de 2014.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Itaguaí/RJ, Maio de 2016.
Foto: Willian Menq