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Coruja-preta Strix huhula (Daudin, 1800)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (2 subespécies)


Indivíduo adulto. Foto: Willian Menq

A coruja-preta é uma bela e rara coruja encontrada em grande parte da América do Sul. No Brasil conta registros escassos e pontuais, a maioria nas florestas da região norte e sudeste. É uma coruja de porte médio, de aparência singular, predominantemente negra barrada de branco, com bico e dedos amarelo-brilhante. É estritamente noturna e de hábitos pouco conhecidos, costuma ser mais ouvida do que vista. Também conhecida como mocho-negro.


Descrição:
Possui 30-36 cm de comprimento e peso médio de 397 g (Holt et al. 1999). Adulto apresenta coloração predominante negra, levemente amarronzada no dorso, com toda região ventral e da face barrado de branco, com disco fácil e sobrancelhas finalmente salpicadas de preto e branco; cauda negra com 4-5 faixas brancas; íris castanho-escuro com pálpebras esbranquiçadas, bico amarelo (por vezes alaranjado), e tarsos emplumados até a base dos dedos, que são amarelos. Subadulto pode apresentar olhos castanhos. Indivíduo jovem sai do ninho coberto por uma penugem acinzentada, já possuindo a íris escura e os dedos e bico amarelo.

Vocalização: O canto do macho é composto por várias notas rápidas, de 3-4 notas guturais profundas, aumentando gradualmente em volume e tom, seguido de uma pausa de cerca de 6 segundos por um assovio mais alto, um tanto saltitante e explosivo, curto. Também emite chamados curtos transcritos como “wobobo whúo ou wobobo whúo hú”. A fêmea emite um canto semelhante, porém mais agudo.

Dieta e comportamento de caça: Alimenta-se principalmente de insetos, como besouros, baratas, mariposas e gafanhotos; e em menor frequência de pequenos vertebrados, como roedores, répteis, morcegos e aves. Caça a partir de um poleiro, geralmente no estrato alto da floresta, interceptando insetos em voo ou capturando presas no solo.

Reprodução: Biologia reprodutiva pouco conhecida. Nidifica em câmaras e cavidades de árvores, nas quais coloca um ou dois ovos. No município de Valença/RJ, um casal usou a larga base da folha de um coqueiro, em meio a uma praça urbana, para nidificar. Entre o final de março/início de abril foi realizada a postura do ovo (s), com um único filhote totalmente emplumado, que saiu do ninho no final de maio (obs. pess. W. Menq, 2016).

Na Argentina, Bodrati & Cocle (2013) encontraram um ninho em uma câmara na forquilha principal da árvore, a cerca de 15 m do solo, protegida por epífitas e três grandes galhos verticais. Em novembro de 2010, foi encontrado um único ovo no ninho; ambos os adultos levavam comida para o ninho e defendiam o local contra pesquisadores, mas apenas um indivíduo parecia incubar o ovo. No ninho era levado principalmente mariposas noturnas (Sphingidae: Lepidoptera), incluindo Manduca spp. e Neococytius spp.

Distribuição e subespécies: Ocorre do sul da Venezuela ao norte da Argentina, incluindo grande parte do Brasil (ausente na região nordeste e no Rio Grande do Sul). São reconhecidas duas subespécies:

  • S. h. huhula: porção oeste-setentrional da América do Sul, desde o extremo norte (do leste da Colômbia às Guianas) até o norte do Brasil e leste-setentrional adjacente (norte do Maranhão e Piauí);
  • S. h. albomarginata: no Brasil leste-meridional, do Rio de Janeiro a Santa Catarina, e sudeste de Minas Gerais, leste do Paraguai e nordeste da Argentina.

Habitat e comportamento: Habita florestas, várzeas e bordas de matas, em localidades a baixa altitude, entre o nível do mar e 500 m, raramente ultrapassando 1.000 m. Pode aparecer em ambientes antrópicos, como bananais e cafezais. Também já foi documentada habitando bairros arborizados e parques urbanos no Brasil (Menq et al. 2018).

É uma coruja relativamente rara, com registros pontuais pelo país. É estritamente noturna e de hábitos pouco conhecidos. Durante o dia descansa nas densas folhagens da copa da árvore, tornando-se ativa assim que escurece. Às vezes, mesmo antes de escurecer já começa a cantar. Pode responder ao playback, principalmente no período reprodutivo, sendo o macho vocalmente mais ativo do que a fêmea.

Movimentos: Espécie residente.

Conservação: A subspécie S. h. albomarginata, da Mata Atlântica, encontra-se ameaçada de extinção, considerada "vulnerável" pelo ICMBIO (2014). A subespécie também encontra-se regionalmente ameaçada em vários Estados da Mata Atlântica (Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Santa Catarina) (ICMBIO 2008).


:: Página editada por: Willian Menq em Abr/2018. ::



Referências:

Bornschein, M. R. & B. L. Reinert. (2000). Aves de três remanescentes florestais do norte do Estado do Paraná, sul do Brasil, com sugestões para a conservação e manejo. Rev. Bras. Zool. 17 (3): 615-636.

Bodrati, A. & Cocle, K. (2013) Distribuition, nesting, and vocalizations of the Black-Banded Owl (Ciccaba huhula albomarginata) in Argentina. Ornitologia Neotropical 24: 169–182

Gonzaga, L. P. & G. D. A. Castiglioni (2004) Registros recentes de Strix huhula no Estado do Rio de Janeiro (Strigiformes: Strigidae). Ararajuba 12 (2): 141-144.

Holt, D. W., R. Berkley, C. Deppe, P. L. Enríquez Rocha, J. L. Petersen, J. L. Rangel Salazar, K. P. Segars e K. L. Wood (1999) Black-banded-Owl. In: J. del Hoyo, A. Elliott e J. Sargatal (orgs.) Handbook of the birds of the world, vol. 5. Barn Owls to Hummingbirds. Barcelona: Lynx Edicions. p. 205.

ICMBio (2008). Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina. Brasília: Coordenação Geral de Espécies Ameaçadas. 136 p.

Lemos, M. (2009). Ocorrência de coruja-preta, Strix huhula (STRIGIDAE, AVES), Em
Área Urbana de Niterói, Estado de Rio de Janeiro, Brasil. Neotropical Raptor Network - Boletim 8: 10-11.

Menq, J. M. N., Menq, W., Benites, M., Mamede, S. & Sabino, J. (2018) Ocorrência de coruja-preta, Strix huhula (Strigiformes: Strigidae), na área urbana de Campo Grande, Mato Grosso do Sul: implicações à conservação. Atualidades Ornitológicas, 202: 18-21.

Partridge, W. H. (1956) Variaciones geograficas en la Lechuza Negra, Ciccaba huhula. Hornero 19:143–146.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Vasconcelos, M. F. & Diniz, M. G. (2008). 170 years after Lund: rediscovery of the Black-banded Owl Strix huhula in the metropolitan region of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil (Strigiformes: Strigidae). Revista Brasileira de Ornitologia, 16(3):277-280.


Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Coruja-preta (Strix huhula) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/strix_huhula.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

S. h. albomarginata (VU) Vulnerável
S. h. huhula
(LC) Baixo risco

Canto - (gravado por: Willian Menq)
By: xeno-canto.




Indivíduo adulto.
Caraguatatuba/SP, Maio 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Caraguatatuba/SP, Maio 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto no ninho.
Goiânia/GO.
Foto:
Nunes D'Acosta
 

Indivíduo adulto.
Gurupi/TO, Nov. 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Gurupi/TO, Nov. 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Caraguatatuba/SP, Nov. 2016.
Foto: Willian Menq