Caburé-acanelado Aegolius harrisii (Cassin, 1849)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (3 subespécies)

Indivíduo adulto. Foto: Willian Menq

Coruja enigmática, sua distribuição, comportamento e requerimentos de habitat ainda são pouco conhecidos. Possui distribuição ampla e disjunta na América do Sul, com registros pontuais no sul, sudeste e nordeste do Brasil. De comportamento discreto, costuma ser encontrada em borda de matas, mata rala, cerrado e clareiras, evitando florestas mais densas. Também conhecida como caburé-canela e corujinha-de-barriga-amarela.

Descrição: Mede de 19-21 cm de comprimento e peso de 104-155 g (Konig & Weick 2008). Coruja pequena de aparência inconfundível. Adulto possui íris amarela (ou castanho-alaranjando), bico cinza-azulado, plumagem com dorso marrom-acastanhado (as vezes marrom-escuro), com pequenas manchas brancas nas penas das asas; o ventre e restante do corpo é amarelo-acanelado, os tarsos emplumados até a base dos dedos. A face é amarela com pálpebras azuladas e área acima dos olhos negra, com uma fina borda negra no disco facial que se liga a coroa (alto da cabeça) também negra. Na nuca há duas listras negras que se unem ao restante do dorso escuro. O jovem sai do ninho com plumagem igual à do adulto, geralmente apresentando a íris de amarelo mais escuro.

Vocalização: O canto territorial do macho consiste em notas rápidas e agudas,de 15-16 notas por segundo, durando de 6 a 10 segundos, canto que pode ser transcrito como “gürrrrrürrrrrrrürrrr ...”.  O canto é baixo, pouco audível a distância, lembra o canto da corujinha-sapo (M. atricapilla).

Dieta e comportamento de caça: Caça principalmente pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e morcegos), pequenas aves e insetos. Caça a partir de um poleiro, capturando suas presas no solo ou nas árvores.

Em Dourado/SP, há registros da espécie capturando cuícas (Gracilinanus agilis), ratos (Orizomys sp.) e pequenas aves (Arremon taciturnus) (Martins 2013, Pinto 2013). Em Camaçari/BA, Studer & Teixeira (1994) relatam a predação de insetos (coleópteros), morcegos (Sturnira lilium) e roedores (Oryzomys sp.).

Reprodução: Nidifica em buraco de árvores ou ocos de árvores mortas, especialmente em buracos de pica-paus em palmeiras. Coloca de 2-3 ovos, que são incubados pela fêmea. O local de nidificação pode ser usado pelo casal por vários anos consecutivos, porém, o período reprodutivo pode ocorrer em datas distintas, variando de acordo as condições climáticas/oferta de presas.

Studer e Teixeira (1994) encontraram um ninho de A. harrisii no oco de uma palmeira morta, contendo três ovos que resultou no nascimento de um único filhote. Koing (1999) relatou no noroeste da Argentina (Misiones), ninhadas com três filhotes. Em Salta, Argentina, constatou-se a vocalização mais frequente de machos nos meses de outubro e novembro. Ainda, no final de setembro, na mesma localidade, jovens já emplumados foram observados, mas, nenhuma vocalização foi gravada.

Distribuição geográfica: Possui distribuição ampla e descontínua na América do Sul; ocorre desde os Andes da Venezuela, Equador para o sul até o norte da Argentina (Tucumán). Outra população ocorre no sul, sudeste e parte do centro-oeste do Brasil (desde Goiás e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul), até o nordeste da Argentina (Misiones) e Uruguai. Há também populações isoladas na região nordeste (Ceará, Pernambuco, Alagoas e Bahia). São conhecidas três subespécies:

• A. h. harrisii: Andes, do noroeste da Venezuela e Bolívia até o sul do Peru;
• A. h. ihieringi: Brasil (desde Ceará e Alagoas até o Rio Grande do Sul), nordeste da Argentina (Misiones) e Uruguai.
• A. h. dabbenei: noroeste da Argentina (Tucumán, Salta e Jujuy) e oeste da Bolívia.
  

Há também populações (subespécies desconhecidas) em Cerro Neblina e nos tepuis da Venezuela e Guiana.

Habitat e comportamento: Habita florestas, mata rala, cerrado, borda de matas, capoeiras, incluindo fragmentos pequenos próximos de áreas urbanas, em altitudes que podem chegar até 3.000 m; aparentemente evita o interior de florestas densas. No sul e sudeste do Brasil, é frequentemente encontrada em matas-de-araucária mescladas com clareiras e pastagens.

É estritamente noturna e discreta, pouco se sabe sobre seu comportamento. Durante o período reprodutivo o macho é bastante ativo vocalmente, cantando assim que escurece, normalmente empoleirado entre a folhagem densa da copa das árvores. Nesse período pode responder ao playback ou se aproximar em silêncio da fonte do som. Durante o período de incubação e pós-reprodutivo, a espécie raramente canta ou responde playback, o que dificulta ainda mais a detecção desta espécie em campo.

Movimentos: Espécie residente.

:: Página editada por: Willian Menq em Jan/2018. ::

Referências:

Barrionuevo, C.; Ortiz, d. e Capllonch, P. (2008). Nuevas localidades de la lechucita canela (Aegolius harrisii dabbenei) (Strigidae) para la Argentina. Nuestras Aves, 53:45-47.

Garcia, S.A., S.R. Michel & M. Sander (2013) Primeiro registro documentado do caburé-acanelado Aegolius harrisii para a região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Atualidades Ornitológicas 171: 16-17.

Girão, W. & Albano, C. (2010). Sinopse da história, taxonomia, distribuição e biologia do caboré Aegolius harrisii (Cassin, 1849). Revista Brasileira de Ornitologia, 18 (2):102-109.

Kaminski, N. (2009). Primeiro registro documentado de Aegolius harrisii para o Estado de Santa Catarina, Brasil. Cotinga, 31:79.

Konig, Claus & Weick, (2008) Friedhelm - "Owls of the World", 2a edição - 2008 - Christopher Helm - Londres - páginas 447 e 448

Martins, J. C. (2013). [WA971955, Aegolius harrisii (Cassin, 1849)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/971955> Acesso em: 08 Fev 2018.

Pinto, M. A. (2013). [WA977026, Aegolius harrisii (Cassin, 1849)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/977026> Acesso em: 08 Fev 2018.

Rebelato, M. M.; Cunha, G. G.; Machado, R. F.; Hartmann, P. A. (2010). Novo registro do caburé-acanelado (Aegolius harrisii) no Bioma Pampa, sul do Brasil. Biotemas, 24 (1): 105-107.

Santos, R. E. F. (2009). Ampliação da distribuição de Aegolius harrisii a partir de coleta por atropelamento. Atualidades Ornitológicas On-line Nº 147 - Janeiro/Fevereiro 2009 - www.ao.com.br.

Sick, H. (1997). Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira.

Studer, A. & Teixeira, d. M. (1994). Notes on the Buff­fronted o Aegolius harrisii in Brazil. Bull. Brit. Orn. Cl., 114(1):62­63.

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Caburé-acanelado (Aegolius harrisii) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/aegolius_harrisii.htm > Acesso em: .