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Coruja-buraqueira Athene cunicularia (Molina, 1782)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (22 subespécies)


Indivíduo adulto. Foto: Willian Menq

A coruja-buraqueira é a coruja mais conhecida e abundante do Brasil. Pode ser encontrada em qualquer área aberta ou semi-aberta, como campos naturais, restinga em praias, pastagens, gramados e terrenos baldios em áreas urbanas; é ativa tanto durante o dia quanto de noite. Como seu próprio nome diz, é uma espécie terrícola, nidifica no solo, seja em buracos abertos por ela mesma, seja abandonado por tatus, e readaptados pela coruja. Por isso, é comumente observada empoleira em mourões de cerca, fios e postes, montes de terra ou no solo próximo do ninho. É uma voraz predadora de invertebrados, caça desde mariposa e besouros até aranhas e escorpiões. Também conhecida pelos nomes de caburé-do-campo, coruja-do-campo, coruja-mineira, corujinha-do-buraco, guedé, urucuera, urucuréia e urucuriá.


Descrição:
Possui de 19-26 cm de comprimento e peso de 147-240 g (Konig & Weick 2008). Adulto possui coloração predominante marrom-acastanhado (cor-de-terra), às vezes de aparência avermelhada causada por solos de terra roxa; o ventre é mais claro, de cor creme, levemente estriado e barrado de marrom ou castanho. A cabeça é arredondada, sem penachos, com sobrancelhas brancas (ou creme), íris amarela, dedos e tarsos amarelo-pálido e bico amarelo-marfim. Ao contrário a maioria das corujas o macho é ligeiramente maior que a fêmea, e devido aos hábitos terrícolas as fêmeas são normalmente mais "sujas" que os machos. O filhote é identificado principalmente pelo peito creme, sem barrado ou estias; a cabeça é toda marrom, sem marcações na testa e sem as sobrancelhas claras. Assim que ficam jovens, a plumagem torna-se similar a dos adultos.

Vocalização: Vocaliza com muita frequência, apresentando um rico repertório vocal. Ambos os sexos emitem um chamado curto, repetido em intervalos de vários segundos, transcritos como “kwekwekwekweeh...”, emitido quando alarmados. Durante a noite emitem chamados de acasalamento e territorial, de tom semelhante a outras corujas, graves e completamente diferentes dos silvos diurnos de alarme.

Dieta e comportamento de caça: Alimenta-se principalmente de insetos (besouros, libélulas, grilos, mariposas), aranhas e outros invertebrados. Em menor frequência caça roedores, morcegos, répteis e anfíbios. Segundo Motta-Junior (2006), um casal de corujas-buraqueiras consome de 12.300 a 26.200 insetos, e de 540 a 1.100 roedores por ano. Segundo o autor, é uma espécie basicamente insetívora em relação à quantidade de presas consumidas, mas em relação à biomassa pode ser considerada como predadora de pequenos roedores.


Jovens nas proximidades do ninho. Florianópolis/SC, Setembro de 2012. Foto: Willian Menq

Reprodução: Como seu próprio nome diz, nidifica no solo, seja em buracos abertos por ela mesma, seja abandonado por tatus, e readaptados pela coruja. As covas possuem em torno de 1,5 a 3 m de profundidade e 30 a 90 cm de largura. Ao redor costuma acumular estrume e se alimenta dos insetos atraídos pelo cheiro. Coloca de 6 a 11 ovos, com período de incubação de 28-30 dias. A fêmea é responsável pela incubação, enquanto o macho pela entrega de alimento ao ninho. Os filhotes começam a se aventurar para fora do ninho com 14 dias de vida, normalmente ficam na entrada do buraco aguardando os adultos. Já com 44 dias de vida, os filhotes saem do ninho, e com 49-56 dias aprendem a caçar.

Normalmente monogâmica, às vezes poligâmica. O comportamento de cortejo inclui cantos intensos e voos circulares dos machos, alloprenning e oferta de presas para as fêmeas. É muito territorial, os adultos defendem o ninho com voos rasantes contra qualquer intruso que se aproximar, como serpentes, cachorros, gatos, inclusive pessoas.

Distribuição geográfica: Possui ampla distribuição nas Américas, ocorre desde o Canadá e Estados Unidos até o extremo sul da América do Sul, incluindo todo o Brasil (ausente apenas nas áreas densamente florestadas). Possui 22 subespécies:

  • A. c. grallaria: leste do Brasil, do estado do Maranhão até Mato Grosso e Paraná;
  • A. c.  cunicularia: sul da Bolívia e sul do Brasil até o Paraguai e Terra do Fogo;
  • A. c.  hypugaea: sudoeste do Canadá até El Salvador;
  • A. c.  rostrata: Ilha Clarión (Arquipélago Revillagigedo, oeste do Mexico);
  • A. c.  floridana: pradarias do centro e sul da Florida, Bahamas, Cuba, e ilha dos Piheiros em Cuba;
  • A. c.  guantanamensis: região costeira do Norte de Cuba na província de Guantánamo;
  • A. c.  troglodytes: ilhas de Hispaniola, Gonâve e Beata (Haiti e República Dominicana);
  • A. c.  amaura: Caribe na ilha de Nevis e Antigua (Hoje provavelmente extinta);
  • A. c.  guadeloupensis: Caribe na ilha de Guadalupe (Hoje está provavelmente extinta);
  • A. c.  brachyptera: Ilha Margarita na Venezuela;
  • A. c.  arubensis: Caribe, na Ilha de Aruba;
  • A. c.  apurensis: Venezuela;
  • A. c.  minor: sul da Guiana e no extremo norte do Brasil (Roraima);
  • A. c.  carrikeri: leste da Colômbia;
  • A. c.  tolimae: oeste da Colômbia (Tolima);
  • A. c.  pichinchae: oeste do Equador (exceto no litoral árido);
  • A. c.  nanodes: litoral árido do oeste do Peru (Trujillo até Arequipa);
  • A. c.  punensis: litoral do sudoeste do Equador e noroeste do Peru;
  • A. c.  intermedia: oeste do Peru (Paita até Pacasmayo);
  • A. c.  boliviana: Bolívia;
  • A. c.  partridgei: norte da Argentina (Corrientes);
  • A. c.  juninensis: região central da Cordilheira dos Andes no Peru (Junín) até o oeste da Bolívia e noroeste da Argentina.


Habitat e comportamento:
Espécie muito abundante no Brasil, encontrada em qualquer área aberta ou semi-aberta, como campos naturais, cerrado, restinga em praias, encostas de montanhas, em altitudes que variam do nível do mar até 4.500 m. É também facilmente encontrada em ambientes modificados pelo homem, como pastagens em áreas rurais, gramados e terrenos baldios em áreas urbanas.

É uma coruja terrícola, tem hábitos diurnos e noturnos, mas é ativa principalmente durante o crepúsculo. É comumente observada empoleira em mourões de cerca, fios e postes, montes de terra ou no solo próximo do ninho. Adultos ou filhotes são facilmente encontrados em frente ao ninho ou pousados em postes e montes de terra próximos do seu abrigo. A qualquer sinal de perigo os adultos emitem um som alto, forte e estridente. Esse alarme é dado durante o dia, e os filhotes, ao escutarem o alerta, entram no ninho, enquanto os adultos voam para poleiros expostos e atacam decididamente qualquer fonte de perigo que se aproxime do ninho. Indivíduos que vivem em áreas urbanas geralmente se habitam com a presença humana e de outros animais perto de seus ninhos, raramente atacando ou respondendo agressivamente, apenas em aproximações excessivas (Lacava 2002), fenômeno descrito como “querido inimigo”.

Movimentos: Espécie residente no Brasil e América do Sul. Populações do extremo norte da América do Norte são migratórias, deslocam-se para regiões mais quentes do continente durante o inverno.

 


:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::



Referências:

Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN: Sesc.

Boyer & Hume. (1997) Owls of the World. BookSales Inc.

Sigrist, T. (2007) Guia de Campo - Aves do Brasil Central. Avis Brasilis.

Konig, C. & Weick (2008) Owls of the world. 2º ed. New Haven, Connecticut: Yale University Press.

Krebs, J. R. (1971) Territorial and breeding density in the great tit Parus major L. Ecology 52:2-22.

Lacava, R. V. (2002) Influência da ação agonística no comportamento agonístico da coruja buraqueira. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 10, p. 237-240.

Motta-Junior, J. C. (1996) Ecologia alimentar de corujas (Aves: Strigiformes) na região central do Estado de São Paulo: biomassa, sazonalidade. Universidade Federal de São Carlos.

Motta-Junior, J. C. (2006) Relações tróficas entre cinco Strigiformes simpátricas na região central do Estado São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, 14(4): 359-377.

Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Teixeira, F. M. & Melo, C. (2000) Dieta de Speotyto cunicularia Molina, 1782 (Strigiformes) na região de Uberlândia, Minas Gerais. Ararajuba, v. 8, n. 2. p. 127-131


Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/athene_cunicularia.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Chamado - (gravação: Glauco A. Pereira)
By: xeno-canto.



Indivíduo adulto.
Itamaraju/BA, Jun de 2009.
Foto: Sávio Drummond
 

Filhote no ninho.
Campo Grande/MS, Set. 2017.
Foto: Willian Menq
 
Indivíduo adulto.
Ribeirão Cascalheira/MT, Fev. 2014.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Corguinho/MS, Dez. de 2015.
Foto: Willian Menq
 

Casal adulto. Caraguatatuba/SP
Novembro de 2014.
Foto: Willian Menq
 
Filhotes no ninho. Engenheiro Coelho/SP. Novembro 2009.
Foto:
André L. M. C.