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Caburé Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (12 subespécies)


Indivíduo adulto (forma marrom). Porto Murtinho/MS. Foto: Willian Menq

O caburé é uma pequena coruja de ampla distribuição na região neotropical, ocorre desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina, incluindo todo o Brasil. Apesar do pequeno tamanho, é um astuto predador de aves, capaz de capturar presas maiores que seu próprio tamanho. É ativo tanto à noite quando de dia, costuma vocalizar com frequência, canto na qual causa alvoroço nas outras aves. Assim como suas congêneres, possui desenhos na nuca que parecem dois “olhos falsos”, que servem para confundir e distrair suas presas. Também conhecida como caboré, caburé-do-sol, caburé-ferrugem e caburezinho.


Descrição:
Possui de 17-20 cm de comprimento e peso de 46-74 g (macho) e 62-95 g (fêmea) (Konig & Weick 2008). Polimórfica, possuindo diversas variações de plumagem, ocorrendo em formas cinzentas, ferrugíneas, marrons e intermediárias. A forma marrom é a mais comum, a ave possui o dorso marrom (muitas vezes com pequenas machas brancas nas coberteiras das asas), ventre branco com estrias marrom-acastanhado, face marrom-acastanhada com estrias brancas na testa, sobrancelha branca; íris amarelo-brilhante, tarsos amarelos e bico amarelo (ou amarelo-marfim); cauda marrom com 6-7 faixas claras. Na forma ferrugínea a cor predominante da ave é marrom-ferrugíneo, com a cauda de mesmo cor (com 6-7 faixas pouco distinguíveis). A forma cinza é mais rara, onde o marrom ou marrom-ferrugíneo é substituído pelo cinza-amarronzado. Jovem sai do ninho com plumagem similar à do adulto, apresenta coloração mais pálida, sem as estrias claras da testa, cauda pouco desenvolvida.

Assim como suas congêneres, possui dois ocelos desenhados na parte de trás da cabeça, parecendo “olhos falsos”, dando a impressão que a ave está sempre de frente. Esses olhos falsos da nuca servem para confundir suas presas (especialmente aves durante comportamento de tumulto), aumentando as oportunidades de caça da coruja.

Vocalização: São vários chamados, sendo o mais comum um assobio curto, constante e repetido por vários minutos, igualmente espaçados, canto transcrito como “poip-poip-poip-poippoip...”. As canções podem incluir de 20-30 notas ou mais. No período reprodutivo o casal pode cantar em dueto, sendo o macho mais ativo vocalmente.

Espécies-similares: Pode ser confundida com a caburé-miudinho (G. minutissimum) e a caburé-da-amazônia (G. hardyi). Essa espécie diferencia-se pelas estrias brancas no alto da cabeça, diferente da G. minutissimum e G. hardyi que possuem pequenas “pintinhas” brancas nessa região. Além disso, a cauda é toda barrada, enquanto as outras espécies possuem a face de baixo da cauda com manchas em formas de gotas ou círculos.

Dieta e comportamento de caça: Caça pequenas aves, insetos, lagartos e pererecas. Apesar do tamanho pequeno, é uma astuta predadora, capturando aves muitas vezes maiores que seu próprio tamanho. Lima & Lima-neto (2008) registraram três itens alimentares como parte do cardápio alimentar dessa espécie: anu-branco (Guira guira), andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficolis) e tuim (Forpus xanthopterygius), sendo o anu-branco a maior presa registrada dentre os itens alimentares desta espécie. Sazima (2015) relata várias capturas de beija-flores (Polytmus guainumbi, Hylocharis chrysura) visitantes de flores em um pomar no sudeste do Brasil.

Como tática de caça, procura suas presas a partir de um poleiro, capturando as vítimas no solo, nas folhagens das árvores, ou interceptando-as em voo. Também aproveita o comportamento de tumulto (mobbing) para atrair e capturar presas, favorecida pela face occipital (falsos olhos) que pode confundir o ataque de uma ave. Motta-Junior (2007) relatou no sudeste do Brasil, a predação de uma tesourinha (Tyrannus savana) pela caburé. A ave apresentava comportamento de tumulto frente a coruja, e foi capturada durante o evento. Cunha & Vasconcelos (2009) citam mais de cem espécies de aves que são atraídas pela vocalização da espécie durante o dia, principalmente indivíduos da família Tyrannidae, Thraupidae e Trochilidae, demonstrando o potencial de agregação de presas.

Reprodução: Nidifica buracos em árvores ou em ninhos abandonados de outras aves, como de pica-paus. Coloca de 3 a 5 ovos, com período de incubação de 28 a 30 dias. Os ninhegos nascem com 4 g, e são alimentados inicialmente pela fêmea, mas logo passam a ser alimentados por ambos os pais. Os filhotes abandonam o ninho com 24-28 dias, permanecendo pelas redondezas por mais algumas semanas. Com um ano de vida já estão aptos a reprodução. Bastante territorial, pode aproveitar a mesma área do ninho por vários anos seguidos. Lima & Lima-neto (2008) realizaram o primeiro registro comprovado de "cainismo" em G. brasilianum, onde constatou-se que um filhote foi predado por outros dois irmãos.

Distribuição geográfica: Ocorre por quase toda a América do Sul, desde Colômbia, Venezuela, Equador e Guianas, até a Argentina, Uruguai, incluindo todo o Brasil. São conhecidas 12 subespécies.

  • G. b. cactorum: sul do Arizona (EUA) e oeste do México (Nayarit).
  • G. b. intermedium: oeste do México, sul de Nayarit até sul de Oaxaca.
  • G. b. ridgwayi: sul do Texas (EUA) até o leste e sul do México e Panamá;
  • G. b. medianum: norte da Colômbia;
  • G. b. margaritae: norte da Venezuela;
  • G. b. phaloenoides: norte e leste da Venezuela, Trinidad e Guianas;
  • G. b. duidae: sul da Venezuela (Mt Duida);
  • G. b. olivaceum: - sudeste da Venezuela.
  • G. b. ucayalae: região amazônica da Colômbia, sul da Venezuela até o norte do Brasil, Peru e norte da Bolívia;
  • G. b. brasilianum: nordeste do Brasil, até o sul e nordeste da Argentina e norte do Uruguai.
  • G. b. pallens: leste da Bolívia, oeste do Paraguai e norte da Argentina.
  • G. b. stranecki: região central da Argentina até o sul do Uruguai.


Habitat e comportamento:
Habita florestas, borda de matas, várzeas, clareiras, savanas e campos com árvores esparsas; em altitudes que variam do nível do mar até 1.500 m, sendo ausente em florestas densas e regiões áridas. Também pode ser encontrada em áreas urbanas mais arborizadas e áreas rurais.

É ativa tanto durante o dia quanto à noite. Permanece boa parte do tempo empoleirada, de onde localiza suas presas, descansa ou canta. Responde bem ao playback, canta o ano inteiro, com maior frequência no período reprodutivo, especialmente nas primeiras horas da manhã, e logo ao anoitecer. Ao ser localizada pelas outras aves, é imediatamente cercada e “denunciada”, com pios e voos rasantes para espantar a corujinha do local.

Movimentos: Espécie residente.


:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::



Referências:

Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN: Sesc.

Del Hoyo, J.A. Elliott, A. & Sargatal,J. (eds) (1999). Handbook of the brids of the world.

Konig, C. & Weick (2008) Owls of the world. 2º ed. New Haven, Connecticut: Yale University Press.

Lima, P. C. Lima-Neto, T. N. C. (2008) O comportamento reprodutivo do caburé Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) no Litoral Norte da Bahia: um ensaio fotográfico. Atualidades Ornitológicas On-line Nº 141.

Motta-Junior, J. C. (2007) Predação de Tyrannus savana, que exibia comportamento de tumulto, por Glaucidium brasilianum, no sudeste do Brasil. Biota Neotrop. vol. 7, no. 2. ISSN 1676-0603.

Sazima, I. 2015. Lightning predator: the Ferruginous Pygmy Owl snatches flower-visiting hummingbirds in Southwestern Brazil. Rev. Bras. Ornitol. 23(1): 12-14.

Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.


Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Caburé (Glaucidium brasilianum) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/glaucidium_brasilianum.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Canto - (gravado por: Robin Carter)
By: xeno-canto.




Caburé predando joão-de-barro (Furnarius rufus). Miranda/MS, Nov. 2011. Foto: Fabiane Girardi
 

Caburé predando rolinha (Columbina talpacoti). Brasília/DF, Jun. 2010.
Foto: Carlos Cândido
 

Caburé predando anu-preto
(Crotophaga ani). Agosto de 2012.
Foto:
Ari Fernando Raddatz
 

Indivíduo adulto (forma ferrugínea)
Miranda/MS, Ago. 2010.
Foto:
Douglas P.R. Fernandes
 

Indivíduo adulto (forma marrom)
Ribeirão Cascalheira/MT, Ago. 2013.
Foto:
Willian Menq
 

Indivíduo predando anfíbio.
Lagoa da Confusão/TO, Out. 2009.
Foto:
Guilherme Silva
 

Indivíduo adulto (forma ferrugínea)
Massapê/CE, Dez. de 2010.
Foto:
André Adeodato
 

Indivíduo adulto.
São L. do Paraitinga/SP. Março 2010.
Foto:
Ivan Angelo
 

Indivíduo adulto (forma marrom).
Bonito/MS, Agosto de 2010.
Foto:
João J. Martins