Jacurutu Bubo virginianus (Gmelin, 1788)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Politípica (15 subespécies)
A jacurutu é a maior coruja existente no Brasil e uma das maiores da América. Além do grande porte, nesta espécie destaca-se as “falsas orelhas” no alto da cabeça e as garras poderosas. Vive em áreas abertas, encontrada em capões de mata, cerrado e áreas campestres. É uma poderosa predadora, caça desde pequenas aves até filhotes de cutias, ratazanas e gambás. Também conhecida como corujão, joão-curutu e corujão-orelhudo.
Descrição: Possui de 45-60 cm de comprimento, peso de 985-1.585 g (macho) e 1.417-2.503 (fêmea) (Holt et al. 2018), sendo a maior e mais pesada coruja do Brasil. Adulto possui plumagem geral que varia do marrom ao cinza-escuro, com barramento claro no ventre; garganta branca bastante proeminente quando inflada (quando a ave vocaliza). Destaca-se as “orelhas”, que são tufos de penas localizados no alto da cabeça, servindo apenas como adorno e sinalizador social para outros membros da espécie. Os tarsos são poderosos e totalmente emplumados, bico cinza-escuro e íris amarelo-brilhante. Jovem sai do ninho coberto por uma penugem marrom-claro por todo o corpo, não possui os tufos de penas, possuindo a íris amarelo-brilhante e bico cinza-escuro.
Vocalizações: O macho um som profundo, grave e ressonante, transcrito como "bu-bubú booh booh", repetido em intervalos de vários segundos. A fêmea tem um canto parecido, mas com um ritmo diferente, algo como "bu-bububú booh"; o casal costuma vocalizar em dueto no período reprodutivo.
Dieta e comportamento de caça: Dieta diversificada, caça pequenos mamíferos como filhotes de cutias, preás, roedores, gambás; e grandes aves, como marrecas, garças, pombos, incluindo pequenos gaviões e corujas. Em menor frequência, preda sapos, lagartos, aranhas e grandes insetos. Antas (2005) relata a predação de filhotes em ninhais de garças e de cabeça-seca no pantanal.
Como estratégia de caça, permanece em um poleiro a média altura até localizar a presa para então voar silenciosamente até ela e capturá-la com as garras (no solo ou na árvore). Também explora cavidades, ninhos e ocos de árvores atrás de pequenos vertebrados. No município de Santa Margarida do Sul/RS, J. Paulo dias (obs. pess.) observou uma B. virginianus predando uma caturrita (Myiopsitta monachus) no ninho. A coruja voou até o ninho da caturrita, pousou na entrada deste e enfiou uma das garras no ninho, retirando a ave do interior.
Reprodução: Nidifica em ninhos abandonados em árvores, em penhascos, cavernas ou mais raramente em meio a vegetação no solo. Coloca de 1 a 2 ovos nas regiões tropicais e 6 a 7 nas regiões mais frias do continente. Os ovos são incubados pela fêmea por 26-35 dias, os jovens começam a alçar os primeiros voos e sair do ninho com 6 a 7 semanas de vida. O território é mantido pelo casal por vários anos. No período reprodutivo, canta muito, um chamado relativamente longo, parecendo estar dizendo “João...curutu” (o que explica um de seus nomes comuns). A primeira parte do canto é mais grave e a segunda, mais aguda e rápida. Ambos sexos podem ser bastante agressivos (mesmo com humanos), durante a época reprodutiva, especialmente após a eclosão dos ovos.
No município de Pindamonhangaba/SP, Juliano M. Gomes (obs. pess. 2016) monitorou um ninho ativo de B. virginianus. O ninho foi encontrado em uma árvore baixa, acomodado com ramos e gravetos secos, localizado no interior de uma pequena mata ciliar. No dia 28/07/2016 foi constatado a presença de três ovos no ninho, e na semana seguinte (06/08/2016) um dos ovos foi encontrado quebrado no solo, talvez derrubado acidentalmente pela fêmea. No dia 20/08/16 os filhotes já haviam eclodidos, sendo que nas semanas seguintes (04/09/2016) constatou-se que apenas um filhote sobreviveu. No mês seguinte, 04/10/2016, o filhote encontrava-se totalmente emplumado e nos arredores do ninho, ainda dependente dos pais para alimentação. O filhote continuou sendo observado na área até o início de novembro até desaparecer do local.
Distribuição subespécies: Ocorre por toda a América, desde o Canadá até o extremo sul da América do Sul, incluindo todo o Brasil (exceto nas áreas densamente florestadas da Amazônia e Mata Atlântica). São conhecidas 15 subespécies:
- B. v. virginianus: Estados Unidos (Minnesota até Kansas, Texas e Florida);
- B. v. saturatus: região costeira do sudoeste do Alasca (EUA) até a região costeira da Califórnia (EUA);
- B. v. algistus: oeste da região costeira do Alasca (EUA);
- B. v. lagophonus: Alasca até o nordeste de Oregon e Montana nos Estados Unidos. Durante invernos rigorosos, as populações podem migrar para o Texas (EUA);
- B. v. heterocnemis: nordeste do Canadá ao sul da região dos Grandes Lagos;
- B. v. elachistus: sul da Baixa Califórnia e na Ilha Espírito Santo, no sudoeste dos Estados Unidos da América;
- B. v. subarcticus: noroeste da Columbia Britânica até a Baia de Hudson e no estado de Wyoming nos Estados Unidos;
- B. v. pacificus: região costeira da Califórnia até o noroeste da península da Baixa Califórnia;
- B. v. mayensis: sudoeste do México (Yucatán);
- B. v. mesembrinus: sul do México (Istmo de Tehuántepec) até o oeste do Panamá;
- B. v. pallescens: região árida do centro e sudeste da Califórnia (EUA) até o Kansas e o sul do México (Oaxaca);
- B. v. nigrescens: Cordilheira dos Andes da Colômbia até o noroeste do Peru (Piura);
- B. v. nacurutu: norte e leste da Colômbia até as Guianas, Brasil, Peru, Bolívia e Argentina;
- B. v. pinorum: oeste dos Estados Unidos, nas montanhas rochosas do sul dos estados de Idaho, Arizona e Novo México;
- B. v. deserti: região árida do nordeste do Brasil;
Habitat e comportamento: Vive em habitats abertos, encontrada em borda de matas, capões, matas secas, matas mesófilas, cerrado e campos naturais; também em regiões rochosas com árvores esparsas, áreas rurais, raramente aparecendo em áreas urbanas. É ausente em florestas primárias ou densas (como por exemplo, no interior da floresta amazônica ou Mata Atlântica).
É noturna e crepuscular, durante o dia esconde-se entre densa folhagem de árvores ou arbustos, em reentrâncias de penhascos, entre rochas ou em rachaduras de grandes troncos, ou em capões de mata. Torna-se ativa no crepúsculo, costuma cantar de seu poleiro habitual antes de voar para um poleiro em áreas mais abertas. Em algumas regiões já foi registrada ativa no final da tarde e no início da manhã (obs. pess. W. Menq).
Durante o período reprodutivo o casal pode cantar em dueto. Quando o macho encontra um potencial local de nidificação ou para oferecer comida para a fêmea, emite chamados guturais. Os jovens pedem comida com gritos irregulares e roucos. Durante a vocalização, o macho pende a cabeça para frente com o corpo alinhado horizontalmente, com a cauda e asas ligeiramente abaixadas. Nesta posição, a garganta é inflada como uma “bola branca” abaixo do bico. No crepúsculo, esta marcação branca torna-se bastante evidente, indicando a posição do macho. As fêmeas normalmente não realizam este display quando vocalizam.
Movimentos: Espécie residente no Brasil. Durante épocas com escassez de alimento, ou em invernos rigorosos, algumas populações do hemisfério norte podem deslocar-se para regiões quentes ao sul (até 250 km para o sul). Esse é o caso da B. v. lagophonus, que ocorre no Alasca.
:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::
Referências:
Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN: Sesc.
Boyer & Hume (1991) "Owls of the World". BookSales Inc
Dornas, T. & Pinheiro, R. T. (2007) Predação de Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e de Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 15(4):601-604.
Holt, D.W., Berkley, R., Deppe, C., Enríquez Rocha, P., Petersen, J.L., Rangel Salazar, J.L., Segars, K.P., Wood, K.L. & Marks, J.S. (2018). Great Horned Owl (Bubo virginianus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from https://www.hbw.com/node/55006 on 5 February 2018).
Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. Segunda Edição. New Haven, Connecticut: Yale University Press.
Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Citação recomendada:
Menq, W. (2018) Jacurutu (Bubo virginianus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/bubo_virginianus.htm > Acesso em:
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