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Falcão-de-peito-laranja Falco deiroleucus (Temminck, 1825)
Ordem: Falconiformes | Família: Falconidae | Monotípica


Indivíduo adulto. Miranda/MS. Foto: André Luiz Briso

Trata-se de um poderoso e exímio predador de aves, caça suas presas por emboscadas através de voos rápidos ou por formidáveis perseguições aéreas. É também um dos falcões mais raros do Brasil e das Américas. No Brasil, a maioria dos registros estão concentrados na bacia amazônica e alguns poucos no sudeste e centro-oeste do país. De comportamento discreto, vive em regiões densamente florestadas, especialmente em áreas adjacentes à rios ou paredões rochosos. Conhecido também como falcão-de-peito-vermelho.


Descrição:
Mede de 33-40 cm de comprimento, peso de 330-360 g (macho) e 390-654 g (fêmea) (Bierregaard et al. 2018). Adulto apresenta o ventre negro finamente barrado de branco; peito e laterais do pescoço marrom-ferrugíneo, garganta e papo branco, cauda negra com finas faixas brancas, dorso todo negro; os tarsos e a cera são amarelos, íris castanho-escura. O jovem não possui o peito ruivo, sua plumagem é mais esmaecida, e a cera é amarelo-esverdeada (ao invés de amarelo brilhante).

Espécies similares: É muito semelhante ao cauré (Falco rufigularis), da qual se difere, na forma adulta, pela coloração do peito marrom-ferrugínea, porte maior, cabeça proporcionalmente mais larga, comprimento dos pés mais avantajados e cauda com silhueta um pouco arredondada na extremidade.

Dieta e comportamento de caça: É um especialista na captura de aves em voo; caça principalmente periquitos (Aratinga), papagaios (Amazona), rolinhas (Columbina), andorinhões (Streptoprocne) e aves limícolas (Tringa, Calidris, Charadrius). Como estratégia de caça, geralmente pousa em poleiros estratégicos no alto de árvores ou na borda de paredões rochosos, de onde se lança em voo para abordar e perseguir suas presas. Também costuma subir alto em voos circulares, mergulhando contra aves voando abaixo e próximas do dossel, estratégia semelhante a do falcão-peregrino (F. peregrinus).

Em um estudo realizado por Baker et al. (1998) na Guatemala e Belize, as aves representavam 85,7% de sua dieta, seguido dos morcegos com 14,3%, e quase metade das presas pesavam entre 25-75 g. No Parque Nacional de Tikal, Jenny & Cade (1986) registraram 22 espécies de aves na dieta do F. deiroleucus, com pesos que variavam de 14 a 265 g. As presas incluíam batuíras (Charadrius), maçaricos (Calidris, Tringa) e a pomba-trocal (Patagioenas speciosa), que era a presa mais pesada, com 265 g. No oeste do Mato Grosso do Sul, W. Menq (obs pess. 2017) observou um indivíduo adulto voando à baixa altura e quase interceptando "de surpresa" um casal de papagaios (Amazona aestiva) que passavam pelo local.

Reprodução: Nidifica em ocos de árvores emergentes, palmeiras, ou em plataformas de paredões rochosos, incluindo construções humanas com os Templos Maias (Parque Nacional de Tikal). Coloca de 2 a 3 ovos com período de incubação de 30 dias. Os filhotes crescem rapidamente, alimentados principalmente pela fêmea. Os filhotes ficam totalmente emplumados com aproximadamente 45 dias, adquirindo plumagem jovem com 75 dias. O tempo que ficam dependentes dos pais ainda são desconhecidos.

Distribuição geográfica: Ocorre do sul do México até o norte da Argentina, incluindo grande parte do Brasil. Apesar da ampla distribuição é uma espécie naturalmente rara, com escassos registros fora da região amazônica.

Habitat e comportamento: Encontrado em florestas densas, principalmente em áreas próximas de rios, encostas e paredões rochosos, ou em áreas de transição entre floresta e cerrado ou pantanal. Comportamento discreto, passa boa parte do tempo empoleirado em árvores secas ou na borda de paredões rochosos, com atividades de caça concentradas no início da manhã e no final da tarde. Pode prolongar suas caçadas até o crepúsculo, especialmente para capturar morcegos. Apesar da ampla distribuição, é muito raro, com populações pequenas e esparsas. No Brasil, avistamentos recentes são escassos, a maioria estão concentrados na bacia amazônica e alguns poucos no sudeste e centro-oeste do país. Embora não esteja relacionado com F. peregrinus, esta espécie o substitui ecologicamente em certas áreas da região neotropical.

Movimentos: Espécie residente.

Conservação: Trata-se de um dos falcões mais raros do Brasil e das Américas. Na Mata Atlântica, avistamentos recentes de F. deiroleucus estão limitados a poucas áreas nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e sul de Minas Gerais (ICMBio 2008, Ribeiro et al. 2011). No restante do domínio sua ocorrência é uma incógnita. Devido à carência de informações é difícil apontar se a espécie está em declínio populacional ou não. Além da raridade natural, seu comportamento discreto também colabora com o baixo número de registros em campo. Está listado como uma espécie de baixo risco de ameaça pela IUCN (2018) e ICMBIO (2014) por causa de sua ampla distribuição geográfica nas Américas. Entretanto, no Brasil aparece em praticamente todas as listas estaduais de espécies ameaçadas de extinção, além de aparecer no livro vermelho de diversos países da região neotropical.

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::

 


Referências:

Baker, A.J. (1998) Status and breeding biology, ecology, and behavior of the Orange-breasted Falcon (Falco deiroleucus) in Guatemala and Belize. M.Sc. thesis, Brigham Young University, Provo, UT.

Bierregaard, R.O., Jr & Kirwan, G.M. (2018). Orange-breasted Falcon (Falco deiroleucus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from https://www.hbw.com/node/53233 on 21 January 2018).

Faria, I. P. & Kanegae, M. F. (2014) Ocorrência de Falco deiroleucus na Mata Atlântica de Minas Gerais, Brasil. Atualidades Ornitológicas nº 177, p 24.

Jenny, J.P., & T.J. Cade. (1986) Observations on the biology of the Orange-breasted Falcon Falco deiroleucus Birds of Prey Bulletin 3:119-123.

Kiff, L.F. (1988) Eggs of the Orange-breasted Falcon (Falco deiroleucus). Journal of Raptor Research 22:117-118.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Zorzin, G., Carvalho, C.E.A., Carvalho Filho, E.P.M. & Canuto, M. (2006) Novos registros de Falconiformes raros e ameaçados para o estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ornitologia 14 (4): 417-421.

Site associado: Global Raptor Information Network

 

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Falcão-de-peito-laranja (Falco deiroleucus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/falco_deiroleucus.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Chamado - (gravação: Andrew Spencer)
By: xeno-canto.



Indivíduo adulto. Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, Jan. 2012.
Foto: Renato S. Moreira
 
Indivíduo jovem. Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, Nov. 2012.
Foto: Renato S. Moreira
 
Indivíduo adulto.
Manaus/AM, Dez de 2012
Foto: Felipe Bittioli R. Gomes
 
Indivíduo adulto.
Manaus/AM, Agosto de 2011.
Foto: Adriano Antunes
 
Indivíduo adulto.
Alfredo Chaves/ES, Set 2011.
Foto: Joselito Nardy Ribeiro
 
Indivíduo adulto.
Fundão/ES, Julho 2008.
Foto: Gustavo Magnago
 
Indivíduo adulto.
Paragominas/PA, Nov. de 2010.
Foto: Alexander Lees