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Falcão-peregrino Falco peregrinus (Tunstall, 1771)
Ordem: Falconiformes | Família: Falconidae | Politípica (19 subespécies)


Indivíduo adulto. Foto: Sandro Mendizabal

O falcão-peregrino é considerado o animal mais rápido do mundo, pode ultrapassar os 300 km/h em seus voos de caça. É também uma das aves de rapina de distribuição mais ampla, ocorre em praticamente todos os continentes, exceto na Antártida. Gosta de caçar aves e morcegos, que são capturados em pleno voo através rápidas investidas ou perseguições. Migratório, aparece no Brasil entre os meses de outubro e abril, frequentemente encontrado nos centros urbanos, pousado no alto de torres de telefonia e borda de edifícios.


Descrição: Mede de 35 a 51 cm de comprimento, peso de 410-1.060 g (macho) e 595-1600 g (fêmea) (White et al. 2018). A fêmea é cerca de 20% maior que o macho, diferença mais perceptível quando o casal está junto ou próximo. Possui variações consideráveis de tamanho e de plumagem entre as diversas subespécies distribuídas pelo mundo. De forma geral, o adulto possui dorso cinza-escuro quase negro, peito e abdomen claro (variando do branco ao creme) todo barrado de cinza escuro; cabeça e nuca também cinza-escuro com uma faixa malar (em forma uma lágrima) abaixo dos olhos. Algumas subespécies (como o F. p. anatum) possuem um capuz todo negro na face, sem a faixa malar. Em voo, nota-se a silhueta robusta, com asas pontiagudas e cauda quadrada relativamente curta. A cera e os tarsos são de cor amarela ou laranja, íris escura, bico cinza-azulado (amarelado na base e preto na ponta). O jovem é identificado pela plumagem mais amarronzada, com dorso marrom-escuro, ventre creme densamente estriado de marrom, com cera cinza-azulada e tarsos amarelo-pálido.

Dieta e comportamento de caça: Caça principalmente aves e morcegos. Dentre as presas, estão documentadas capturas de aves pequenas como andorinhões (Chaetura), periquitos (Aratinga), pombos (Zenaida, Columba), bacuraus (Chordeiles), e até presas grandes como papagaios (Amazona), patos (Anas), garças (Ardea), gaivotas (Larus) e outras aves de rapina (pequenas corujas e gaviões). Eventualmente, pode caçar roedores, coelhos e insetos voadores.

Apesar de possuir uma grande variedade de presas em sua dieta, o falcão-peregrino é normalmente especializado localmente em determinados tipos de presas. Há indivíduos que vivem em áreas urbanas que tem uma dieta preferencial por pombos e rolinhas; há outros especializados na captura de aves marinhas, como maçaricos e gaivotas; e há também falcões mais generalistas, que predam diversas espécies de aves pequenas, podendo consumir algumas de porte médio.

No Brasil, a maioria das presas consumidas são pombos-domésticos (Columba livia) e pombas-de-bando (Zenaida auriculata), que são abundantes nos centros urbanos. Outro item alimentar frequente são os morcegos, considerados a segunda fonte alimentar mais explorada pelos falcões no Brasil, correspondendo a cerca de 15 a 20% da dieta dessas aves nas áreas de invernagem.

Comportamento de caça: Geralmente captura suas presas em pleno ar, através de impressionantes perseguições. Em áreas urbanas, pousa na borda de edifícios ou antenas de telefonia para localizar suas presas e iniciar as perseguições, que podem durar vários minutos. Outra estratégia bastante surpreendente é a de voar alto patrulhando o território de caça, e descer em queda livre (voo picado) contra qualquer ave, de pequeno a médio porte, que estiver voando abaixo. Esses voos atingem velocidades impressionantes, podendo ultrapassar 300 km/h, tornando o falcão-peregrino o animal mais rápido do mundo.

Nesses voos picados a violência do impacto é de tal ordem que muitas das aves deste modo abatidas apresentam morrem instantaneamente ou ficam gravemente feridas, com asas partidas, contusões múltiplas ou cortes profundos e mais ou menos extensos infringidos pelas garras do falcão. Ao atingir a ave com as garras, realiza uma meia-volta e a captura ainda em voo enquanto cai ou desce até o solo.

Reprodução: Nidifica principalmente em plataformas em bordas de penhascos, mas existem populações que nidificam em ninhos abandonados de outras aves no alto de árvores em paisagens abertas. Em áreas urbanas, pode nidificar em plataformas no alto de edifícios, pontes e outras estruturas artificiais. Ressalta-se que essa espécie não se reproduz no Brasil, as subespécies migratórias que aparecem no país (F. p. tundrius e F. p. anatum) se reproduzem no hemisfério norte.

Coloca de 3 a 4 ovos, com registros de postura de até 6 ovos. Os ovos são incubados por um período de 32 a 35 dias por ambos os pais, sendo a fêmea responsável por maior parte do processo. Os filhotes ficam totalmente emplumados com 35 a 42 dias, e continuam dependentes dos pais por mais cinco semanas. Durante o período reprodutivo são extremamente territorialistas, acuando qualquer invasor que se aproxime do ninho, inclusive grandes águias e gaviões.

Distribuição geográfica: Ocorre em praticamente todos os continentes, exceto na Antártida. No continente americano possui uma distribuição complexa, com algumas populações migratórias (F. p. tundrius, F. p. anatum) e outras residentes (F. p. cassini). Os indivíduos que aparecem no Brasil são migratórios oriundos da América do Norte, em sua maioria da subespécie F. p. tundrius (originária das regiões mais árticas, como Alasca, Canadá e Groelândia).

Subespécies: São reconhecidas 19 subespécies em todo o mundo, sendo que quatro ocorrem no continente americano (duas aparecem no Brasil).

  • F. p. tundrius: tundra ártica da América do Norte, do Alasca à Groenlândia; no inverno migra para a América do Sul até o sul do Chile, Brasil e Argentina.
  • F. p. anatum: América do Norte, desde o sul do Canadá e Estados Unidos até norte do México; no inverno migra para o sul dos Estados Unidos até a América Central, raramente atingindo o Brasil. Algumas populações de F. p. anatum são residentes nos Estados Unidos.
  • F. p. cassini: subspécie residente, ocorre na região andina, desde o Equador e sul da Bolívia (Cochabamba), até o Peru (Cuzco, Juni Lambayeque, Piura), norte da Argentina e sul do Chile.
  • F. p. pealei: costa ocidental da América do Norte do oeste do Alasca e Ilhas Aleutas.

Habitat e comportamento: Habita os mais variados habitats ao longo de sua distribuição, desde áreas montanhosas, tundras, savanas, regiões costeiras, ilhas oceânicas até áreas urbanas. No Brasil, durante o período de invernagem (outubro a abril), pode ser encontrado em vários centros urbanos, onde a concentração de edifícios (que são usados como poleiros estratégicos de caça e dormitório) e de presas (pombos e morcegos) é elevada. Em áreas rurais, costuma usar árvores altas (eucaliptos e pinheiros), como poleiros de caça e descanso.

Vive solitário ou aos pares; passa maior parte do dia pousado em seus poleiros preferenciais, com atividades de caça concentradas no início da manhã ou no final da tarde, por vezes estendendo-se até o início da noite para caçar morcegos.

Chama a atenção sua fidelidade aos locais de invernagem, cada indivíduo retorna todos os anos para os mesmos locais. A mesma fidelidade também é observada quanto aos poleiros utilizados nessas áreas, tanto os de uso estratégico para caça, como os poleiros de repouso e alimentação. Em Maringá/PR, W. Menq (obs. pess.) monitorou por três anos consecutivos, 2013 a 2015, um casal em invernagem na cidade. O casal utiliza os mesmos poleiros de descanso e áreas de caça dos anos anteriores, além de pernoitar juntos. Um terceiro indivíduo foi monitorado na cidade por quatro anos consecutivos, de 2013 a 2016, usando em todos os anos uma plataforma no alto de um edifício como local de descanso.


Indivíduo adulto no centro de Araraquara/SP, Fevereiro de 2014. Foto: Karin Volobuef

Movimentos: A maioria das populações que se reproduzem nas regiões mais setentrionais e austrais são migratórias, enquanto que algumas outras são residentes. O falcão-peregrino aparece no Brasil entre os meses de outubro e abril, os indivíduos que aparecem no Brasil são, em sua maioria, da subespécie F. p. tundrius (oriunda do Canadá, Alasca e Groelândia). É a subespécie norte-americana que mais responde aos estímulos migratórios com deslocamentos de longa distância, alguns indivíduos chegam a percorrer 22 mil km em suas viagens de ida e volta. Já o F. p. anatum (que também migra para a América do Sul) possui uma distribuição mais ampla dentro da América do Norte, abrangendo áreas de amplitudes térmicas variáveis e menos extremas, e dado a isso, nem todos chegam a se deslocar tanto do seu ponto de origem, e os que migram geralmente vão até a América Central e norte da América do Sul, raramente atingindo o Brasil.

Conservação: Nas décadas de 50 e 60, o uso do DDT afetou gravemente as populações residentes na Europa ocidental e na América do Norte, quase extinguindo muitas populações. Notou-se que os falcões não conseguiam se reproduzir, o pesticida aparentemente contaminou as sementes e os insetos consumidos por pequenas aves, e acumulou-se em seus tecidos. Por sua vez, estas aves eram predadas pelos rapinantes e o pesticida acumulava-se em seu organismo e interferia na sua reprodução, causando ocorrência de ovos com casca mais fina, mais suscetível à quebra, muitas vezes não aguentando o peso da ave durante a incubação. Após proibições quase universais do uso de DTT nas décadas de 70 e 80, e após a criação de vários programas de reprodução em cativeiro e reintrodução, as populações de F. peregrinus se recuperaram rapidamente. Seu rápido declínio e posterior recuperação é uma das histórias de conservação melhor documentadas do último século. Atualmente, a espécie encontra-se com baixo risco de extinção em toda sua área de distribuição.

 

 

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::

 


Referências:

Albuquerque, J. L. B. (1978) Contribuição ao conhecimento de Falco peregrinus Tunstall, 1771 na América do Sul (Falconidae, Aves). Rev. Bras. Biol. 38: 727-737.

Pereira, G. A.; Coelho, G.; Dantas, S. M.; Roda, S. A.; Farias, G. B.; Roda, S. A.; Brito, M. T. B.; Pacheco, G. L. (2006) Ocorrências e hábitos alimentares do falcão peregrino Falco peregrinus no estado de Pernambuco, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, 14 (4): 435-439.

Sick, H.(1997) Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira. RJ.

Silva & Silva, R. (1996) Records and geographical distribution of the Peregrine Falcon Falco pereginus Tunstall, 1771 (Aves, Falconidae) in Brazil. Pap. Avuls. Zool. São Paulo 39: 249-270.

White, C.M., Christie, D.A., de Juana, E. & Marks, J.S. (2018). Peregrine Falcon (Falco peregrinus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from https://www.hbw.com/node/53247 on 22 January 2018).

Site associado: Global Raptor Information Network

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Falcão-peregrino (Falco peregrinus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/falco_peregrinus.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Chamado -
(gravação: Alexandre Renaudier)
By: Xeno-canto.




Indivíduo adulto.
Londrina/PR, Out de 2014.
Foto:
Andréa Sabino
 

Indivíduo adulto.
Campinas/SP, Março de 2012.
Foto:
José Carlos
 

Indivíduo jovem.
Taubaté/SP, Jan de 2018.
Foto:
Marcos Moura
 

Jovem predando um pombo (Zenaida auriculata). Vila Velha/ES, Fev de 2013.
Foto:
Amanda Ruas
 

Indivíduo adulto no alto de um edifício. Campo Grande/MS, Jan. 2018.
Foto:
Nina Wenóli
 

Indivíduo adulto.
Rio de Janeiro/RJ, Jan 2018.
Foto:
Francisco Kapps
 

Indivíduo adulto.
Rio de Janeiro/RJ, Jan. 2013.
Foto:
João Sérgio Barros
 

Indivíduo adulto.
Rio de Janeiro/RJ. Mar. 2010.
Foto: Aisse Gaertner
 

Adulto predando um pombo (Zenaida auriculata). Paiçandu/PR, Mar. 2015.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo jovem.
Balsa Nova/PR, Jan de 2018.
Foto:
Anderson Warkentin